23.12.10

Hipocrisia: o mal do mundo


Não sou do tipo que costuma escrever matérias jornalísticas e também não participo de nenhum movimento social, mas hoje por algum motivo acordei menos hipócrita e resolvi expor aqui um fato que vem me chamando a atenção há algum tempo. Tenho certeza que o que acontece por aqui, acontece em muitos outros lugares no Brasil, portanto não se trata de um fato extraordinariamente novo, e creio eu que seja esse o grande infortúnio, o que vou contar é algo muito comum , e já nos acostumamos a esse tipo de mazela social. Atualmente resido numa belíssima cidade, muito visitada por turistas, admirada pelo rico patrimônio histórico cultural e privilegiada pelo Criador com praias deslumbrantes , pois bem,nessa incrível cidade existe um lugarzinho chamado " Retorno da Forquilha", que na verdade não é bem um lugar ... Retorno da forquilha é um " retorno" que se localiza em uma das avenidas mais movimentadas da cidade , e Forquilha , se não for o nome do bairro, deve ser o nome da avenida eu acho, enfim, o que interessa para nós é saber que nesse retorno há um semáforo, e em um dos lados da avenida há uma espécie de galpão aberto, que também não é bem um galpão, já que não tem paredes, e é nesse espaço onde as coisas acontecem. Nunca cheguei a contar , mas acho que, entre crianças e adultos, aproximadamente 15 pessoas se abrigam nesse local. É uma cena chocante : o sinal fecha, você olha várias pessoas amontoadas umas sobre as outras , deitadas no chão, grande parte fazendo uso de drogas ilícitas, alguns meninos vem até os carros para limpar o pará-brisas em troca de algumas moedas, raramente alguém aceita, a grande maioria permanece com os vidros fechados e não abre nem por um decreto se precavendo de um possível assalto, depois disso o sinal abre , os veículos passam e dali à 2m ninguém lembra do que viu lá atrás, a vida continua e esses moradores de rua continuam escapando enquanto der e do jeito que puderem. Certa vez alguém comentou comigo sobre um trabalho que haviam feito à respeito do assunto, dentre os resultados obtidos observou-se que grande parte daquelas pessoas eram menores de 18 anos oriundas do interior do estado, que fugiam de casa por algum tipo de exploração, maus tratos, ou que eram expulsas de casa por serem viciados em drogas, outra parte constituía-se de doentes mentais, alguns diziam ainda que faziam uso de ''cola de sapateiro" porque a mesma amenizava a sensação de fome. Nessas horas é que eu queria saber por onde andam o Conselho Tutelar ou órgãos competentes?Poxa isso acontece em uma das avenidas mais importantes! será que ninguém mais passa por ali?...Por diversas vezes fiquei imaginando a sensação de um líder político, tipo prefeito ou governador, ao passar por ali, ficava pensando que eles deveriam se se sentir frustrados e culpados...ingênua eu né? A verdade é que cheguei a uma conclusão, eu sou tão culpada quanto qualquer outro que se cala diante de absurdos como esse , sabemos nos unir e reivindicar nossos direitos quando nos sentimos prejudicados por uma nova lei, ou por redução em nossos salários, por quê então não nos unimos para reivindicar um mínimo de dignidade para a vida daqueles que não tem voz para fazerem isso por sí próprios? Tenho duas teorias que respondem minha pergunta :

- " O que não incomoda, nos acomoda" : só passamos alguns minutos diante da cena de horror, então pra quê complicar...

- " O que não tem remédio, remediado está" :isso acontece todos os dias em inúmeros lugares e até hoje ninguém deu jeito...

Resumindo, o nome disso é hipocrisia, e talvez seja essa a mesma hipocrisia que ordena massacres em guerras como a do Iraque, que tira milhares de vida em países como a África do sul, onde se morre de fome e que ceifa os direitos básicos de muitos.

Joseane Santos.

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