27.12.10

Agendar a vida


O ócio é uma possibilidade infinita a ser explorada.
Não falo da inércia, do desânimo, do vazio melancólico.
Jamais falarei de ficar de robe velho e pantufas (vi numa vitrine algumas com cara
de cachorro e até orelhas!) pela casa até o meio da tarde.
Falo de viver.
“Parar, olhar, escutar”, dizia um aviso nos trilhos do trem quando havia trem entre
minha cidade e Porto Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu
imaginava o horror de alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e
fumaça.
A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a poeirinha inútil quem se esquecer
de às vezes parar pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou para
dentro: paisagens belas, ou áridas (sempre dá pra plantar um capim) ou quem sabe
coloridas (a alma pode brincar de esconde-esconde entre as folhas).
E escutar: a música do universo, o canto do sabiá (que tem começado às 3 da
madrugada fria, atarantado neste clima estranho); a risada da criança no andar de
cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do
marasmo, viveeeeeeeeeee!
Que nossas agendas (também as interiores) nos permitam muitas vezes a plenitude
do nada sorvido como um gole de champanha, celebrando tudo.
Sem culpa.
Lya Luft
Texto adaptado.

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